Trata-se de coleção documental da Família Gomes Ferrão Castelo Branco, a partir do século XVII. Entre os documentos, encontram-se as edições fac-similar e semidiplomática do livro intitulado “Borrador em que Lanço todas as cartas que escrevo, principiado em 1º de Agosto de 1749, estando na Bahia. Bahia: 1749”. Esse livro, depositado na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, em São Paulo, contém 227 fólios manuscritos, com 15.5 cm de largura, 25 cm de altura e 3 cm de espessura, composto de rascunhos de cartas, feitos na Bahia, a partir de 1742, por Antônio Gomes Ferrão Castelo Branco, brasileiro, baiano, nascido em 1728, filho de Alexandre Gomes Ferrão Castelo Branco e de Dona Maria Cardoso de Oliveira. Neto paterno de Antonio Gomes, sendo seu bisavô o português Pedro Gomes, que chegou ao Brasil, em 1625, tornando-se alferes e mestre de campo, tendo recebido terras às margens do Rio São Francisco, na primeira metade do século XVII, por sua atuação, juntamente com os índios Aramaru, na expulsão dos holandeses; neto paterno de Dona Damiana Francisca Castelo Branco e neto materno de Salvador Cardoso de Oliveira e de Dona Maria da Cruz Porto Carreiro. Antônio Gomes Ferrão Castelo Branco foi Sargento-Mor, também secretário da Academia Brasílica dos Renascidos (inicialmente Academia Brasílica dos Esquecidos, fundada em Salvador, em 1724), uma academia de Letras do Brasil Colônia, a serviço do Marquês de Pombal (Primeiro-Ministro de Portugal, de 1750 a 1777). Os rascunhos da documentação epistolar – dirigida a familiares (inclusive a sua mãe, Dona Maria Cardoso de Oliveira, que sabia ler e escrever, e a sua avó, que vivia em Minas Gerais, Dona Maria da Cruz) e representantes da elite do Brasil – versam sobre assuntos pessoais e sobre negócios. Entre essas cartas, há aquelas trocadas diretamente com o Superintendente da Feira do Capuame, Francisco Xavier de Faria; a referida feira era um lugar fixo para o comércio do gado, localizado a oito léguas de Salvador, onde os fazendeiros e vaqueiros do alto sertão e de localidades mais distantes encontravam-se com os compradores de gado para vender suas mercadorias e pagar as taxas estipuladas pela Coroa. Além disso, incluem-se, na presente coleção documental, documentos de outros membros da família Ferrão Castelo Branco, a exemplo de cartas de Pedro Gomes Ferrão Castelo Branco, depositadas no Arquivo Distrital de Braga (ADB). Uma descrição do Borrador e das relações sociopolíticas da família encontra-se em István Jancsó, nos Estudos Avançados 22 (62), de 2008: “Não porque diários privados (ou devassas ou peças literárias) não sigam normas e preceitos comumente observados à época de sua lavra, mas porque comportam registros da subjetividade não-policiada, vale dizer dos sentimentos, dúvidas e perplexidades diante do mundo, dos homens e do tempo, a exemplo dos papéis cuidadosamente preservados de Antônio Gomes Ferrão Castelo Branco, fidalgo, senhor de engenho e de fazendas de gado sertão adentro, secretário da Academia Brasílica dos Renascidos e um dos signatários da Representação de 1752. Neles, o colono se revela, a um só tempo, português, baiano e brasileiro. O que, porém, era isso de ser brasileiro para esse descendente de ilustre linhagem que remonta aos primórdios da colonização? A resposta há que procurar nos seus registros ciosamente organizados em meio à crise que, geral à Bahia, se tornara mais ameaçadoras para a casa dos Ferrão Castelo Branco por motivos políticos. Seu pai, Alexandre Gomes Ferrão, que fora ocupante de cargos de prestígio – a provedoria da Santa Casa de Misericórdia e a vereança na Câmara de Salvador – à semelhança dos precedentes titulares da casa, foi, por ter entrado em rota de colisão com o vice-rei André de Melo e Castro, alijado do ambiente político da capital, deixando ao primogênito Antônio, além de muitos problemas práticos, um ensinamento que ele soube transformar em ferramenta de sucesso: levar sempre em conta a que ponto viviam “dependentes dos Governos os que temos as casas estabelecidas pelas conquistas” (Borrador, fl.3.v), função da íntima conexão entre as instâncias pública e privada de poder no Antigo Regime em colônia.” Na família, uma das moradias, em 1690, foi a então quinta da Unhão, Solar do Unhão ou Solar da União, onde residiu o Desembargador Pedro Unhão Castelo Branco; anteriormente, em 1584, a propriedade pertenceu ao português Gabriel Soares de Souza (1540-1592), historiador do Brasil. Em 1700, foi vendida a José Pires de Carvalho e Albuquerque, Visconde da Torre de Garcia D'Avila, cujos descendentes, José Pires de Carvalho e Albuquerque e Salvador Pires de Carvalho e Albuquerque, foram membros da Academia dos Renascidos, contemporâneos de Antônio Ferrão Gomes Castelo Branco. Entre as habitações da família, está também a chamada Casa Nobre do Pelourinho, residência de Pedro Gomes Ferrão Castelo Branco, entre 1793 e 1814. Antônio Gomes Ferrão Castelo Branco registrou seus títulos imobiliários na Câmara de Propriá, declarando ser de 30 léguas a extensão de suas terras, latifúndio que constituiu o morgado de Porto da Folha, nas proximidades do Rio São Francisco. Data de 1765 um requerimento de seu avô, natural do Arraial do Rio de São Francisco, em que solicita ao Rei D. José Mercê do Hábito de Cristo, disponível no Arquivo Histórico Ultramarino (AHU). Também residiu no morgado, em Porto da Folha, Alexandre Gomes Ferrão Castelo Branco.