Da vasta documentação oriunda do sobrado do Brejo do Campo Seco, produzida e recebida pelos fazendeiros, em Bom Jesus dos Meiras, atual cidade de Brumado, no interior da Bahia, no período compreendido entre a segunda metade do século XVIII e o terceiro quartel do século XIX, chegaram a nossas mãos, através do CE-DOHS – Corpus Eletrônico de Documentos Históricos do Sertão, sediado na Universidade Estadual de Feira de Santana, no NELP – Núcleo de Estudo em Língua Portuguesa, do DLA – Departamento de Letras e Artes, o Livro do Gado e o Livro de Razão. Trata-se de dois manuscritos que registram, principalmente, as atividades agrícolas e contábeis praticadas na fazenda do Campo Seco, no distante sertão baiano de tempos idos.
O Livro de Gado, editado e analisado por Elaine Brandão Santos em sua dissertação de mestrado intitulada O Livro do Gado do Brejo do Campo Seco (Bahia): Edição semidiplomática e descrição de índices garofonéticos, defendida em 2019, no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos, na Universidade Estadual de Feira de Santana, contém 57 páginas, das quais 22 estão escritas, em sua maioria, no verso e no recto. Encontram-se, nesse manuscrito, informações pastoris (registros de nascimentos, pagamentos e partilhas de animais da fazenda do Brejo do Campo Seco) e assentamentos referentes a recibos de inventários da lavra dos punhos do português Miguel Lourenço de Almeida, de seu genro Antônio Pinheiro Pinto e de seu neto, Inocêncio Pinheiro Canguçu.
O outro manuscrito do Campo Seco, o Livro de Razão, editado e analisado por Adilson Silva em sua tese intitulada O sertão por escrito no Livro de Razão: um microcosmo sócio-histórico e linguistico da Bahia rural oitocentista, no Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura, na Universidade Federal da Bahia, contém, pela numeração encontrada, 195 páginas. Entretanto, verificou-se que faltam 32 páginas, além de 36 não apresentarem mancha escrita. As anotações de dívidas dos clientes do armazém, que existia na fazenda, são predominantes nos assentos feitos por Antônio Pinheiro Pinto e pelo seu filho, Inocêncio Pinheiro Canguçu. No entanto, há outros registros referentes a receitas médicas, a patentes militares, à disputa judicial, sobre o processo de construção do sobrado, que mobilizou uma série de professionais na região, além dos agentes de letramento que atuaram no processo de intrução de Inocêncio Pinheiro Canguçu.
Essa síntese aqui apresentada é apenas um “cardápio” a respeito do que pode ser encontrado nesses manuscritos tão importantes para a história da língua portuguesa no sertão da Bahia. Fica o convite para conhecer um pouco mais do sertão escrito nas páginas dos Livros do Campo Seco.
Imagem do Sobrado do Brejo do Campo Seco
Fonte: CE-DOHS